terça-feira, 23 de julho de 2013

Vibradores Literários



Era uma vez uma moça que gostava muito de ler, ela lia tudo: gostava de mistério e até tinha se arriscado por alguns livros realmente consagrados, mas sem muitas pretensões, era curiosa, sedenta por desbravar os gêneros da literatura, dissecá-los, defini-los... Bem, ela se tornou adolescente e foi então que o conheceu. Ele era charmoso, cativante e fácil, era sucinto e não admitia muita reflexão, o negócio dele era o romance: açucarado, apelativo, rico em adjetivos caricatos e sentimentos clichês. E assim eu conheci o gênero literário mais Cult trash de nossa sociedade: os romances de banca de jornal.
Eu devia ter uns 13 (ou 14) quando li o primeiro. Veja bem, sem falsa modéstia, mas já havia lido até essa idade O medico e o monstro, A volta ao mundo em 80 dias, Viagem ao centro da terra, Além do arco íris, Ladeira da saudade... estava começando a entender o romance policial da série Vaga-lume, e tinha um fascínio pela cultura Grego Romana lendo Eros e Psique, A Illíada, A Odisséia , isto é, estava acostumada a leituras densas, mesmo que não as entendesse na primeira leitura, mas ele era tão envolvente! Eu não precisava mais sofrer se o final seria triste ou feliz, ele era sempre feliz! Por mais difíceis que fosse a situação, no final eu sempre estaria suspirando extasiada em como o amor vence tudo.
E o sexo? Ele não era mais subjetivo, imaginário ou subtendido. Não, o sexo era explícito, sempre com corpo trêmulos, orgasmos múltiplos e saciedades letárgicas. Era um pouco machista também com suas mulheres sempre virgens (ou semi-virgens no máximo) e seus homens sempre muito experientes sempre beirando os possessivos ciumentos, mas, quem resistia? Grande parte eram ricos e milionários e lindos de tirar o fôlego, mesmo errados, sempre certos e sempre cuidando de suas mulheres, agradecidos e lacrimosos quando estas lhe davam filhos. Quase uma versão contemporânea da musica Mulheres de Atenas de Chico Buarque...rs.
Bom, o bem da verdade era que aquele clima de “Mulheres Perfeitas” me cativou. Eu não tinha mais que lidar com a angústia de tensão eminente, choque em fins trágicos ou incompreensíveis, era tudo tenso ou triste ou até mesmo tranqüilo nos inícios com desenrolares nem sempre lógicos ou organizados contanto que eu tivesse a felicidade de ler o primeiro beijo e aguardar confortável e suspirante o desfecho poliânico.
A sensação era de que tinha saído com caras intelectuais, difíceis, duros por um momento de prazer inquietante e agora descobrira o que era um vibrador! Sim, eu não tinha que aturar personalidades difíceis porque eu poderia obter um prazer solitário e previsível com meu romance eternamente feliz e otimista.

Claro que com o tempo, o prazer solitário ficou chato, a satisfação era rápida e efêmera e pouco a pouco fui voltando para a vida real literária com fins inesperados, mas vez ou outra, na solidão, eu recorro a essa leitura...

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