(...) A segunda vez que escreveu seu nome ( e ele não parecia tão longo dessa vez) foi em uma madrugada.
A caneta foi mais tolerante dessa vez. Permitiu que experimentasse os contornos circulares da letra inicial com alguma firula. O segundo nome - que era seu favorito, mas de alguma forma soava imprevisível - saiu sinuoso e cerimonioso, o "y" tropeçou na caneta para sair. Finalmente, na terceira linha daquelas repetições, escreveu-o, como previa naquele instante, como o escreveria em todos os espacinhos em branco que, tal como sua mente, foram se preenchendo com o seu nome...
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Inquietações...
(...) Era doloroso, porém,
escrever aquelas linhas. Aquelas canetas recitaram um mesmo nome por muitos
anos, como em uma oração silenciosa e devota. Aquele nome não era comum àquelas
linhas, seus cadernos e agendas. A primeira vez que escreveu seu nome (e era um
longo nome), logo abaixo do seu, para ver como soava, sentiu o rosto esquentar.
Temeu que alguém visse, que apontasse o dedo e gritasse sua leviandade. Apagou
apressadamente, passando freneticamente a borracha sobre tudo, como que para
dissipar as ideias. (...)
(...) Era certo, no entanto, que
o deslumbramento sobre aquelas revelações, de alguma forma, não fossem tão
surpreendentes assim. Afinal, ainda residia em torno de si, todo o clichê sobre
sua idade ainda jovem, de gostar de estar com as pessoas e de que ainda via
coisas possíveis em coisas impossíveis. Assim, seria quase um crime que, com
tanta fome pelo viver, este fosse recebido com uma vida sozinha. (...)
(...) Reviu por um longo tempo
tudo o que conversaram. Tentou, como toda mulher, encontrar ao menos o menor
resquício de que fosse recíproco. Porém, fora o flerte natural e inerente a
qualquer conversa entre um homem e uma mulher com interesses em comum e dos
elogios pela coincidência destes, não encontrou quaisquer revelações ou
garantias disso. De alguma forma isso foi tranqüilizador, contudo, também foi
um pouco frustrante. Afinal, possuía algum ego ainda ali e, não faria mal algum
ser o motivo da inquietação de alguém, principalmente, quando este alguém era o
motivo de toda a sua inquietação. (...)
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