quarta-feira, 22 de junho de 2011

Hoje...

Não resisti a postar este poema...ele é tão a minha cara!
na verdade , saiu na revista Gloss edição 45 na sessão Glosscoluna por Natalia Barros






O MAIOR ADEUS







No dia do maior adeus, o sol estava alto, era início do verão que a brisa quente abençoava. Eu era amada e ouvia o contínuo murmúreo das ondas.

No dia do maior adeus, pensei em mel, em pérolas, em facas, em deuses, em Ícaro com suas asas, em vertigem, em céu, em pássaros.

No dia da despedida, comi peixe com pirão.

No dia do maior adeus, continuei lembrando que iria pela vida a fora, todos os dias, dias e dias, a adorar o Amor, mesmo que sua passagem provoque alegrias e desconhecimentos.

No dia da distância aumentada.
Da estrada da incomunicabilidade.
Do descaso.
Do descontinuado.

As nuvens seguiram, condensando lembranças pluviais.
Caminhei pela montanha, comprei jornal, reguei as samambaias.
Como todos os dias : abri e fechei janelas.

No dia desse adeus, pensei em entender, em me calar, em para sempre, pensei em não pensar.

Nesse dia vi estrelas radiantes e silenciosas.

No dia do maior adeus, permaneci com os olhos no cais, o sangue escorrendo, coagulando e eu, até a medula, fadada a ser eu.




* * *





Natalia Barros é poeta, cantora, compositora e diretora de espetáculos. Foi integrante do Luni, uma das bandas mais festejadas da cena paulista dos anos 80 e 90. Veja mais em: www.myspace.com/nathaliabarros E-mail: nataliabarros@uol.com.br

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